Por Ana Luiza Carboni
Um mês e meio depois da
redução de velocidade nas marginais do Tiete em SP a velocidade média dos
carros aumentou e o número de acidentes graves caiu.
Acreditamos que a
redução de velocidade nas vias seja fundamental para construirmos uma cidade
para pessoas, onde o pedestre tenha prioridade e todos possamos usufruir de
melhor mobilidade.
Foto Julio Lima |
Reproduzimos abaixo o
artigo de Reinaldo Del Dotore, publicado em 4 de Setembro de 2015, com
os dados do efeito da redução de velocidade em São Paulo.
“'Paradoxo Haddad' ampliou velocidade nas marginais.
Alguns grandes portais têm, nos últimos dias, divulgado
informações interessantes a respeito dos primeiros resultados concretos
referentes à redução da velocidade máxima permitida nas avenidas marginais, em
São Paulo, medida polêmica instituída pelo prefeito Fernando Haddad, do PT.
Assim que Haddad anunciou que a velocidade máxima nas principais vias da cidade
(especialmente nas marginais) seria reduzida, teve início uma autêntica cruzada
contra o prefeito. Não faltaram as acusações de "incentivo à indústria das
multas" e, no campo das críticas mais racionais, cidadãos alegaram que não
haveria sentido em se fazer os motoristas demorarem ainda mais em seus
deslocamentos diários. Foram feitas contestações a essas críticas por meio da
divulgação de estudos empíricos realizados em outras cidades do mundo, estudos
que provavam que não haveria redução significativa no tempo de deslocamento com
a redução da velocidade máxima na proporção que se propunha para São Paulo, mas
sempre a tréplica era algo como "não se pode comparar essa cidade com São
Paulo". Contas simples demonstravam, ainda, que, na maior parte dos
deslocamentos, o motorista eventualmente poderia demorar apenas alguns minutos
a mais, o que certamente não seria relevante diante da provável redução do
número de acidentes e de mortes, mas mesmo este argumento não teve
receptividade.
Pois bem. O que os números divulgados mostram é que, após
seis semanas do início da redução da velocidade, os acidentes com vítimas
caíram 27%, acidentes com mortes diminuíram 50%, e, o que é mais surpreendente,
a lentidão caiu 22% no pico da tarde e, na cidade como um todo, a lentidão no
período vespertino caiu 19%. Quanto à redução dos acidentes em geral e dos
acidentes com vítimas em particular, parece difícil que se questione os dados:
é até mesmo intuitiva a relação direta entre velocidade e probabilidade de
ocorrência de acidentes e da provável gravidade desses eventos. Já com relação
à redução da lentidão, a dúvida pode ser efetivamente mais legítima: como é
possível que a redução da velocidade máxima gere redução da lentidão, se o
lógico a se esperar seria exatamente o oposto? Este é o "paradoxo de
Haddad", e tem duas explicações.
Em primeiro lugar, a redução do número de acidentes influi
positivamente na fluidez do trânsito. Quem conhece a dinâmica das marginais
paulistanas sabe que um acidente, mesmo que bastante simples e sem maiores
consequências materiais ou humanas, e ainda que os veículos envolvidos
permaneçam apenas alguns minutos parados em uma das pistas do leito carroçável,
costuma provocar lentidão e mesmo congestionamentos de vários quilômetros, e
que, mesmo após a remoção dos veículos e normalização da passagem, essa
lentidão demora muito a se dissipar. É claro, portanto, que quanto menos
acidentes (especialmente os mais graves, que chegam a fechar uma ou mais pistas
das marginais por algumas horas) maior a fluidez. Além disso, há outro aspecto
interessante, publicado e demonstrado por engenheiros de trânsito brasileiros e
de outros países. Sob determinados parâmetros (e ao que tudo indica a redução
nas marginais se enquadra neles), a redução da velocidade máxima, abstraída a
questão dos acidentes, tende a aumentar a velocidade média, pois mais veículos
podem ocupar a mesma área da avenida ao mesmo tempo.
De qualquer forma, deixando-se de lado os elementos
teóricos, o fato é que os números demonstram que efetivamente a redução da
velocidade máxima aumentou a velocidade média nas marginais. É claro que é
perfeitamente legítimo o debate a respeito de questões pontuais da medida (por
exemplo, se a velocidade máxima em uma ou outra pista é a adequada ou se
poderia ser ligeiramente maior, etc.) - me parece cristalino que nenhuma medida
administrativa como esta é um "pacote fechado", imune a reavaliações
e ajustes. O que salta aos olhos em São Paulo, porém, é a má vontade de
significativa parcela da população com relação ao prefeito Haddad, má vontade
esta que obstrui a racionalidade e torna a discussão meramente emocional, quase
sempre vinculada a paixões políticas e não a uma genuína preocupação com os
problemas da cidade. Talvez o maior "paradoxo de Haddad" seja o fato
de ele ser sistematicamente apedrejado mesmo quando, inquestionavelmente, ele
acerta.”
Acesse a matéria aqui: link
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